Nova Previdência – Direito Adquirido

26, fevereiro 2019.

 
 
 
==
Terra
Quem tem direito adquirido não será afetado por reforma
 
Trabalhador que já cumpriu os requisitos mantém direito a aposentar-se pelos critérios presentes, mesmo com uma nova emenda à Constituição
25 FEV2019
 
A cada anúncio de reforma da Previdência, a situação se repete: tanto no setor público como na iniciativa privada, trabalhadores que ultrapassaram o tempo mínimo de contribuição correm para antecipar a aposentadoria. Essa movimentação, no entanto, é arriscada e pode prejudicar o segurado se feita de maneira precipitada.
 
Quem cumpriu os requisitos para se aposentar pelas regras atuais está preservado pelo direito adquirido e não será afetado pela reforma da Previdência. Nesses casos, o trabalhador mantém o direito a aposentar-se pelos critérios presentes, mesmo que uma emenda à Constituição entre em vigor.
 
O direito adquirido vale independentemente se o trabalhador entrar com pedido de aposentadoria antes ou depois de uma reforma da Constituição. A situação, na verdade, vale para qualquer direito. Isso porque a legislação, em tese, não pode retroagir, apenas ser aplicada a partir do momento em que passar a vigorar.
 
"Essa é uma questão definida dentro do sistema judiciário. Durante a reforma da Previdência no fim dos anos 1990, houve uma controvérsia, mas o STF [Supremo Tribunal Federal] se posicionou na época sobre o assunto e determinou que o direito adquirido vale para quem tenha completado os requisitos nos termos da norma anterior. Não precisa ter feito o requerimento, basta ter completado o direito", explica o mestre em direito constitucional Rodrigo Mello, professor de direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
 
Espera
O secretário de Previdência da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Leonardo Rolim, confirma que quem já conquistou o direito à aposentadoria não apenas não será afetado como poderá escolher se permanecerá na regra atual ou se aposentará pela nova legislação. Ele aconselha o trabalhador a esperar a reforma entrar em vigor para somente então decidir como quer se aposentar.
 
"Que o trabalhador espere. Pode ser que a nova regra, se ele esperar mais um tempo, seja mais vantajosa do que aquela em que ele obteve o direito pelas regras atuais", disse Rolim durante a entrevista coletiva na última quarta-feira (20), quando técnicos detalharam a reforma da Previdência.
 
Segundo Rolim, o trabalhador pode ter vantagem na regra de cálculo e aumentar o valor do benefício se esperar mais um pouco. "Hoje, dependendo da idade, a pessoa terá uma taxa de reposição [indicador usado no cálculo do benefício] menor que na nova regra. Então pode ser mais interessante para esse segurado ficar mais alguns anos e aposentar-se com um benefício maior", explicou.
 
Caso a caso
Rodrigo Mello, do Uniceub, concorda com o secretário, mas diz que cada caso é único. Ele recomenda que o trabalhador tenha cautela neste momento e analise todos os cenários. "Em primeiro lugar, o segurado precisa verificar se entrou na situação de direito adquirido. Se sim, ele deverá simular o valor do benefício com quatro opções", aconselha. Esses quatros cenários são a aposentadoria pela norma atual, pela regra de transição da legislação atual (caso o trabalhador esteja enquadrado numa regra de transição), na transição proposta pela reforma e nas regras definitivas depois da reforma.
 
Um exemplo de como o segurado pode ganhar se esperar são os servidores que ingressaram no setor público antes de 2013. Quem tomou posse até 31 de dezembro de 2003 terá direito à integralidade, aposentando-se pelo último salário da ativa, caso espere até a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Para professores, a idade mínima cai para 60 anos.
 
No setor privado, o trabalhador que estiver próximo de 40 anos de contribuição poderá lucrar se permanecer mais alguns anos na ativa. Isso porque, caso a reforma seja aprovada, ele poderá aposentar-se com mais de 100% da média de contribuições e sem o fator previdenciário.
 
Atualmente, o empregado da iniciativa privada tem o benefício calculado com base na média de 80% das maiores contribuições para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Sobre esse valor, incide o fator previdenciário, indicador que diminui o benefício final à medida que aumenta a expectativa de vida da população.
 
Reuters
Governo põe reforma da Previdência na rua sem saber tamanho da base e preocupa líderes
 
Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
25 FEV2019
 
O governo federal pôs na rua seu principal projeto, a reforma da Previdência, mas ainda não consegue contar quantos votos teria a favor da proposta e nem mesmo qual seria exatamente o tamanho de sua base parlamentar, em um movimento –ou falta de– que vem deixando assustados líderes experientes.
 
No Palácio do Planalto, perguntas insistentes sobre o tamanho da base do governo são respondidas com silêncio. Parlamentares alinhados com o governo, no entanto, apontam para 100 deputados em uma versão otimista, 80 fiéis ao governo em uma conta mais realista. Os números não bastam nem mesmo para aprovar um projeto de lei, na maioria dos casos, quanto mais para uma emenda constitucional, que necessita 308 votos.
 
"Nem o PSL vota inteiro com o governo", diz uma liderança. "Talvez não chegue a 30 os votos fieis do partido."
 
A falta de articulação, de conversas com as lideranças e de ouvir os parlamentares teria afastado partidos que, em tese, teriam indicado um apoio inicial ainda na transição.
 
"O governo vai ter que construir a base, hoje ela não existe. O único partido com declaração de base de apoio de governo é o PSL. Não existe nenhum outro que tenha base declarada, mesmo com ministros no governo", disse o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, na semana passada, ao chegar para um café da manhã com o presidente Jair Bolsonaro.
 
O PSL tem 54 deputados.
 
Nenhum outro partido declarou apoio oficial ao governo. Alguns que chegaram a negociar uma adesão, como o PR, o PP e o PRB, terminaram por declarar independência e já verbalizam sua insatisfação com a articulação política –ou a falta de– do governo.
 
"Nós já perdemos o PR, estamos perdendo o PRB, tudo por falta de articulação. Hoje o governo tem 100 votos quando muito para a reforma da Previdência, já teve 250", reclama uma parlamentar governista. "E não vai resolver dando tapa na orelha de parlamentar."
 
A ala econômica prefere não falar em número de votos para a reforma da Previdência, citando apenas dados da ala política do governo, que fala em 250 votos –para aprovar uma mudança constitucional, como a reforma da Previdência, são necessários pelo menos 308 votos.
 
Deputados experientes ouvidos pela Reuters garantem que não existe hipótese de a reforma ter hoje esses 250 votos. No Planalto, fala-se em algo entre 180 e 200 parlamentares favoráveis, mas parte desses apenas depois de negociações que terão que incluir cargos, mesmo que o governo não queira.
 
Questionado sobre a expectativa do governo e o tamanho da base, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fez uma conta básica que, na prática, dificilmente se confirma: a de que a oposição conta com 150 deputados e o restante, 363, seriam votos potenciais em favor da reforma.
 
"AMADOR"
O cálculo do ministro desconsidera o poder de corporações que elegem os parlamentares e as insatisfações das bancadas.
 
No mesmo dia da apresentação da reforma, os presidentes do PP, Ciro Nogueira (PI), e do PRB, Marcos Pereira (SP), usaram suas contas no Twitter para afirmar que sem o projeto que altera também a previdência dos militares nem se deveria iniciar a discussão do projeto, em um sinal de que a vida do governo não deve ser fácil.
 
"Atrapalhado" e "amador" são alguns dos adjetivos usados por um líder partidário para avaliar a articulação do governo. Há queixas de parlamentares que pedem audiências e não são recebidos e até de quem foi levar prefeitos de sua região para conversar com secretários e se sentiu destratado.
 
"Eles acham que estão fazendo tudo novo, mas a verdade é que não tem articulação. Um líder tem que ligar para o ministro, para o presidente e resolver as coisas, ter informação. Nada disso tem", reclama uma liderança.
 
Apegado à ideia de que não irá negociar cargos com partidos e líderes partidários, o governo vendeu, esta semana, a ideia de que irá montar um "banco de talentos" de nomes indicados pelos parlamentares para preencher cargos ainda vagos na administração federal.
 
Como mostrou a Reuters, são cerca de mil vagas para serem preenchidas em órgão federais nos Estados, que deputados e senadores tentam convencer o Planalto que precisam ser negociadas para adiantar a reforma. Onyx defende que parlamentares poderão indicar nomes, que serão técnicos, terão os currículos avaliados e poderão ser vetados pelos ministros.
 
Seria apenas uma nova versão da distribuição de cargos, avalia uma liderança parlamentar de alto escalão, que tenta amenizar a ideia de "toma lá, dá cá", tão combatida por Bolsonaro durante a campanha e a transição. "Continua sendo um sistema de indicações políticas", analisa.
 
Uma liderança próxima ao Planalto disse que a ideia do chamado banco de talentos "é uma bobagem".
 
"Se você tem essas vagas vai ter que usar. Essa coisa de banco de talentos é uma bobagem. Claro, tem que conversar, tem que cuidar a questão de corrupção, mas vai ter que negociar, vai ter que indicar, vai ter que levar deputado para inaugurações. Ou então não vai votar nada", defende.
 
Outra liderança ouvida pela Reuters avalia que o anúncio feito pelo governo como uma novidade é, na verdade, ofensivo aos parlamentares.
 
"A maneira como eles tratam parece que os partidos só querem meter a mão no governo. Não é assim. Tem gente experiente, boa, que pode ajudar", reclamou. "Eu que não vou indicar ninguém."
 
Na semana passada, a falta de articulação deu mostrar das dificuldades que o governo pode passar.
 
A Câmara aprovou por 367 votos a 57 a urgência do projeto que sustava o decreto que ampliou a delegação de quem no governo pode definir a classificação de documentos secretos. Logo em seguida o decreto foi derrubado em votação simbólica.
 
A votação foi vista como um recado de uma Câmara insatisfeita ao Planalto mas, dentro do Palácio, foi avaliado como algo menor.
 
BEBIANNO
Parlamentares ouvidos pela Reuters confirmam ainda que a má vontade e a desconfiança com o governo foi agravada pela crise que levou à saída do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. A interpretação é que se o presidente trata dessa forma uma pessoa próxima, que trabalhou diretamente para elegê-lo, por que cumpriria acordos com parlamentares com quem não tem tanta proximidade?
 
"Foi um sinal muito ruim. Se ele trata assim um amigo próximo, por que vai me tratar diferente? Como eu vou confiar que vai cumprir o combinado?", disse um líder partidário.
 
Depois da indicação dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Bolsonaro possivelmente indicará até terça-feira a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) para a liderança do governo no Congresso.
 
Apesar de rusgas iniciais com parte do PSL e até mesmo com um dos filhos do presidente –Eduardo, também deputado federal– Joice conquistou um espaço junto a lideranças veteranas do Congresso e é a aposta do Planalto para tentar melhorar a interlocução.
 
 
Reuters
Proposta para BPC na reforma da Previdência deve ser flexibilizada com baixo impacto fiscal
 
Marcela Ayres
25 FEV2019
 
A proposta do governo de Jair Bolsonaro de restringir o Benefício de Prestação Continuada (BPC) no valor de um salário mínimo apenas para idosos a partir de 70 anos de idade tem gerado forte resistência entre parlamentares e deve ser objeto de flexibilização na reforma da Previdência, ainda que do ponto de vista fiscal a mudança não seja tão relevante.
 
Hoje, o BPC garante a transferência de um salário mínimo aos que têm acima de 65 anos e aos deficientes de qualquer idade que comprovem condição de miserabilidade –renda familiar inferior a 1/4 do salário mínimo por pessoa.
 
Com a reforma, outro critério a ser cumprido para requerimento do benefício será um patrimônio familiar inferior a 98 mil reais. A partir daí, as regras de acesso continuarão as mesmas para os deficientes, mas mudarão para os idosos. Com 60 anos eles já serão elegíveis ao recebimento do BPC, mas de 400 reais. Somente a partir dos 70 anos o montante pulará para um salário mínimo, hoje em 998 reais.
 
O pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular, Carlos Góes, estimou que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na prática reduz o que o beneficiário receberá entre 60 e 69 anos em 5 por cento do total, uma vez que a PEC começa a distribuir o BPC mais cedo.
 
"Não é uma perda substancial, mas é uma perda real que talvez seja significativa para esses idosos que estão em situação de maior vulnerabilidade", disse. "Se o novo benefício ficasse em cerca de 420 reais, um pouco mais do que isso, não haveria perda real em relação ao modelo que tem atualmente.
 
Ele ponderou que há muita evidência empírica corroborando a eficácia do BPC em amenizar os efeitos da pobreza e que, por isso, qualquer mudança nesse programa tem que ser muito bem pensada.
 
Segundo o secretário especial da Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, as novas regras para o BPC inclusive não farão o governo poupar no curto prazo. É a limitação do abono salarial aos que ganham até um salário mínimo, ante dois salários mínimos atualmente, que garantirá a economia na frente de assistência da reforma, calculada pela equipe econômica em 41,4 bilhões de reais em quatro anos e 182,2 bilhões de reais em 10 anos.
 
"No caso do BPC está agregado aí a questão do abono. Se você colocar só o BPC na verdade para nós em quatro anos é deficitário", afirmou Marinho. "Quando a gente agrega a questão do abono aí ganha", acrescentou.
 
Independentemente dos benefícios fiscais com a investida, uma fonte parlamentar com trânsito no Planalto e entre a equipe econômica foi enfática ao dizer que não há possibilidade de a reforma avançar sem a modificação desse desenho.
 
Falando em condição de anonimato, a fonte pontuou, inclusive, que o governo deveria ter se reunido com o comando da Câmara dos Deputados e com o do Senado antes de submeter a proposta ao Congresso para evitar o desgaste com esse tópico.
 
Nesta segunda-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), indicou que o BPC não inviabiliza o sistema previdenciário, mas que as mudanças no benefício pretendidas pelo governo podem inviabilizar a aprovação da reforma.
 
"Isso aí vai ser retirado. O governo não fará cavalo de batalha nessa matéria", afirmou o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE), que foi assessor econômico de Ciro Gomes na disputa presidencial e que tem conversado com a equipe de Marinho sobre a PEC.
 
A ideia de instituir um sistema fásico para o BPC partiu dos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, apresentados a Bolsonaro há tempos pelo secretário-executivo da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Hoje, Abraham é secretário-executivo da Casa Civil.
 
Os Weintraub, contudo, queriam que o BPC começasse a ser pago ainda mais cedo, aos idosos a partir de 55 anos, e que o valor inicial partisse de 600 reais, evoluindo até chegar ao salário mínimo.
(Com reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle)
 
 
Estadão
Nas redes sociais, reforma da Previdência provoca polêmica
Clima de polarização entre defensores e opositores da proposta enviada pelo governo ao Congresso começa a lembrar cenário das últimas eleições
 
Adriana Fernandes
25 FEV2019
 
BRASÍLIA – O debate da proposta de reforma da Previdência já se transformou numa verdadeira guerra campal nas redes sociais entre os apoiadores e opositores do texto encaminhado na semana passada ao Congresso Nacional. Especialistas em Previdência, economistas, políticos, integrantes do governo e, sobretudo, servidores atingidos pelo texto travam uma guerra para mostrar os prós e contras da proposta, de acordo com o ponto de vista de cada um. O ambiente de polarização lembra o ocorrido nas eleições presidenciais.
 
O pulso das redes em torno da proposta está sendo monitorado pela Secretaria de Comunicação do governo. Além da tarefa de combater as "fake news" (notícias falsas) e os "mitos" criados em torno da reforma (o principal deles é o de que não há déficit na Previdência), a equipe de governo está analisando o comportamento dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em relação à reforma. A aposta é que eles deverão ter, assim como aconteceu nas eleições, um papel de pressão importante nos parlamentares que vão votar a proposta de emenda à Constituição (PEC).
 
No ambiente dos maiores especialistas em Previdência do País, Paulo Tafner, acabou se envolvendo numa polêmica. Ao dar entrevista à TV, Tafner cometeu um ato falho ao comparar a aposentadoria entre empregada doméstica e patroa, e acabou virando alvo da oposição. Ele disse que a empregada se aposenta 10 anos antes do que a patroa, quando queria dizer o contrário.
 
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aproveitou para atacar: "Sincericídio dos apoiadores da Reforma da Previdência: ela vai corrigir a 'injustiça' da empregada doméstica se aposentar antes do que a patroa. O cinismo da Casa Grande não tem limites…", postou Boulos.
 
O contra-ataque veio do movimento Livres, de orientação liberal, que publicou uma chamada na rede: "Boulos se aproveita de um ato falho do especialista Paulo Tafner. Pelo compromisso com a verdade, nos sentimos na obrigação de esclarecer os fatos. #previdênciajusta", diz o post do Livres, que afirma que líderes de esquerda tentam impedir a reforma da Previdência com base em informações falsas.
 
Além do Livres, o esquadrão pró-reforma tem um grupo de economistas que alimenta a rede com informações e gráficos para explicar a importância de cada medida da PEC. Um dos expoentes do grupo é o consultor legislativo do Senado, Pedro Fernando Nery, e o economista Carlos Góes, do Instituto Mercado Popular, que reúne vários pesquisadores.
 
Muito ativo nas redes, Nery é instado a toda hora pelos seus seguidores a dar explicações técnicas sobre pontos específicos da proposta. Em post neste domingo, 24, escreveu que contribuição do servidor hoje só cobre 15% da despesa. "O resto é a contribuição do Estado e o imposto sobre as grandes pobrezas (déficit)", postou.
 
Nunca é demais lembrar: contribuição do servidor hoje só cobre 15% da despesa. O resto é a contribuição do Estado e o imposto sobre as grandes pobrezas (deficit).
 
Além da proposta de R$ 400 para os idosos carentes do BPC, a elevação da alíquota da contribuição previdência para até 22% é uma dos pontos mais quentes discutidos nas redes. Os servidores prejudicados têm feito campanha com o argumento de que se trata de "confisco". Com quase 35 mil seguidores, o procurador da República de Goiás Hélio Telho diz em um post que a medida é uma forma mal disfarçada de reduzir salário e que a Nova Previdência de Bolsonaro é "muito generosa" com policiais e agentes penitenciários.
 
Uma sequência de postagens (thread, no jargão das redes) do ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no Twitter, também esquentou o debate. Autor de uma proposta de reforma que não chegou a ser enviada pela ex-presidente Dilma Rousseff, ele postou um "guia" para o debate da reforma mostrando que há três grupos nas redes: contra todas as medidas propostas pelo governo; contra algumas e a favor de outras; e, por último, o grupo a favor da proposta como ela está.
 
"A maioria dos economistas está no grupo 2, mas os grupos 1 e 3 chamam mais atenção", escreveu o ex-ministro. Nos posts, Barbosa diz que é favorável à implantação da idade mínima, aumento progressivo das contribuições especialmente sobre altos salários no governo, as reformas do abono salarial e das pensões por morte, alinhamento entre as regras do INSS e dos servidores. Mas se posicionou contra as regras de transição na forma proposta pelo governo, o modelo de reforma do BPC (benefício para idosos de baixa renda), a previsão de que a capitalização substituirá a repartição, a ausência de proposta para o militares e outros pontos.
 
Guia para o debate da reforma da previdência.
 
Há opiniões:
 
1) contra todas medidas propostas pelo governo
 
2) contra algumas medidas, mas a favor de outras
 
3) a favor a proposta como ela está
 
A maioria dos economistas está no grupo 2, mas os grupos 1 e 3 chamam mais atenção.
 
No ambiente dividido das redes, até mesmo o filho mais polêmico de Bolsonaro, Carlos, entrou na defesa da reforma. "Nenhuma outra proposta de reforma foi tão firme contra privilégios. Está claro no texto da Nova Previdência: quem tem menos, paga menos. É preciso consciência. A mudança é dura, mas necessária", postou. Já o seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), defendeu na rede a inclusão dos guardas municipais no grupo que tem regras especiais de aposentadoria.
 
 
Terra
Bolsonaro convida oposição para reunião sobre reforma
Presidente convida PDT e PSB para reunião no Planalto; siglas dizem que não vão participar
 
Mariana Haubert e Camila Turtelli
26 FEV2019
 
BRASÍLIA – Num primeiro movimento em direção aos oposicionistas após a eleição, o presidente Jair Bolsonaroconvidou o PDT e o PSB para a reunião que fará nesta terça-feira, 26, com líderes partidários da Câmara, no Palácio do Planalto. A ideia é abrir diálogo com siglas que, mesmo fora da base aliada, podem dar votos para aprovar a reforma da Previdência.
 
A estratégia, porém, não foi bem sucedida até agora. Os líderes das duas legendas já avisaram que não irão ao encontro e criticaram a ausência de convite para os demais partidos de oposição, como o PT, o PSOL e o PCdoB.
 
"Temos toda a disposição de fazer esse debate (sobre Previdência) e vamos fazer, mas achamos que ele deve acontecer com o conjunto dos partidos e em cima de uma análise da proposta que a gente possa opinar", afirmou o líder do PSB, deputado Tadeu Alencar (PE).
 
Sem uma interlocução efetiva no Congresso, Bolsonaro tem encontrado dificuldades para montar uma base aliada consistente, que garanta a aprovação das mudanças na aposentadoria, prioridade de seu governo. Na oposição, a crítica é de que ele ainda "não desceu do palanque" e mantém o mesmo tom de ataques adotado na campanha eleitoral. Como exemplo, parlamentares citam o discurso de posse, quando o presidente disse que iria livrar o País do socialismo, e a mensagem presidencial enviada no início do Ano Legislativo, em que criticou "ideologias" atribuídas a gestões do PT.
 
Ao todo, os partidos da oposição reúnem 134 votos. Ao chamar PDT (28 deputados) e PSB (32 deputados) para discutir a reforma, Bolsonaro tenta atrair ao menos parte desses congressistas para votar com o governo. Nesta segunda-feira, 25, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que um terço do que reúne as duas siglas já seria suficiente. "Se conseguirmos 20 votos na oposição, nossa chance de aprovação aumenta muito", afirmou Maia. Para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência, são necessários 308 votos na Câmara.
 
Estratégia
Ao chamar apenas uma ala da oposição para o debate, Bolsonaro repete a estratégia adotada por Maia na campanha pela reeleição à presidência da Câmara. Na ocasião, ele conseguiu dividir os blocos e consolidar o apoio do PSB, PDT e PCdoB à sua candidatura, isolando o PT e o PSOL.
 
De acordo com o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), foi o próprio presidente quem escolheu as siglas que seriam convidadas para a reunião.
 
"Achamos por bem não participar porque é, no mínimo, uma inabilidade não chamar outros partidos. Se quer se ter uma articulação do Palácio do Planalto com o Poder Legislativo, deveria chamar outros partidos", disse o líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE).
 
Cotado para presidir a comissão especial que vai discutir a reforma na Câmara, o deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) disse esperar que, mesmo ausente da reunião de hoje, o governo aceite as propostas que o PDT fará à PEC. "É importante que a necessidade da reforma não se perca", disse. O deputado afirmou que só aceitará o cargo na comissão especial caso tenha aval do seu partido.
 
Base
Mesmo entre as legendas que podem integrar a base, há ressalvas quanto à forma como os partidos estão sendo tratados. O líder do PP, Arthur Lira (AL), criticou o fato de a reforma não ter sido apresentada com antecedência aos parlamentares. "Eu fiz um pedido para o governo para que fôssemos os primeiros a ser chamados, porque seremos os primeiros a ser demandados", afirmou. Na tarde de ontem, disse que ainda não tinha certeza se iria ao encontro no Planalto, pois não havia sido informado da "pauta da reunião".
 
O líder do PRB, Jhonatan de Jesus (RR), também afirmou que ainda aguardava mais informações na tarde de ontem. "Se for confirmado, eu pretendo ir porque é importante dialogar."
 
O encontro havia sido inicialmente agendado para a quinta-feira, 21, mas foi adiado para esta terça-feira. Ainda nesta segunda-feira, alguns líderes estavam confusos em relação ao horário. O líder do PSL, Delegado Waldir (GO), chegou a informar que seria às 8h30. Bolsonaro, no entanto, vai a Foz de Iguaçu (PR) hoje, na posse do diretor-geral da Itaipu Binacional, general Joaquim Silva e Luna. O encontro com parlamentares ficou para as 18h.